terça-feira, janeiro 21, 2014

carraças

amordaças
carraças
plenitude do que me queimei
bichos que continuam pegados à minha pele

já digo melhor alfabeto
o amor também fará sentido
dado que num gesto não omitido
assim ganhei repelente

o que sobra continua meu
e será

mas penso que o resto deverá desaparecer
devagar

pelo menos espero eu

terça-feira, dezembro 17, 2013

Regresso

Às exclamações modernas
e os fingidos cadafalsos
presos e pendurados
na manga de um casaco bonito

Das linhas e dos botões
do que cose e do que o tecido consegue
que tapa e mostra e esconde
foge pouco e logo mostra o dente

À linha de morte
e ao pelotão de fuzilamento
transformo-me
e regresso

Das falsidades que me abrandaram
às verosímeis veias pela pele acima
regenero ao que é mesmo
e sinto-me como se fosse

domingo, setembro 01, 2013

simplicidade

Isso é para pessoas descomplicadas
a vida não é assim
a falta de ar é mesmo assertiva
não imaginada
não fictícia

pensamentos e merdas carregam a carroça
não tenho cavalos para tanta tralha nos cornos
nada é simples
nada se descomplica
apenas para quem não é como eu

de resto
só fodas de juízo

quarta-feira, agosto 14, 2013

Frascos

A fechar as portas
com pequenos feixes de luz a limparem o ar
vão-se estreitando e quase rodas as chaves

é hora de comer

o vinho já está na mesa
não tarda, e de uma só vez
os frascos ficarão vazios

é hora de ir
finalmente

quarta-feira, julho 31, 2013

magoar-te

Não vou estar nunca à margem deles
dos erros
estranha e linear forma de me mexer nos meandros da vida
pouco provável acertar
e não mudei muito sabes ?
por mais que tente
falho os passos todos
mesmo que os ensaie
não dava para bailarina
imaginas-me ? ri-te

porém nada
e mais uma vez nunca
igualará e me aleijará tanto
como te ter magoado

e pensar nisso é ressuscitar e voltar a enterrar tudo
como já fiz
fazendo tu depois
e com justiça

terça-feira, julho 30, 2013

diz-me

de volta ao lugar do costume
a solidão bate-nos aos pontos
não achas ?
puxarem-me pelos colarinhos não daria em nada
a correria é desaforada

está tudo parado
aqui e nas paragens
nas andanças e nas mudanças
que pensas das pertenças ?
é que não sei de onde sou
diz-me onde estou

segunda-feira, julho 29, 2013

Rastejar

Extrema regularidade afectiva
do atribuir até ao fim
mesmo antes de começar
não resulta em mais do que pequenas
e infelizmente rotineiras
linhas de coser de que me esqueço

desfazem-me as roupas
desfaço-me as rótulas
sou obrigado a rastejar
enquanto correm correm correm