quarta-feira, julho 06, 2011

#4


Tenho a impressão que andar para a frente me divide sempre em dois. Toda a gente anda com um pé atrás e outro à frente, mas devíamos andar aos pulinhos de pés juntos, pelo menos eu, para não ficar sempre com um pé lá atrás, a recordar-me. E o pé faz parte de mim não é ? E eu acabo por sentir a terra onde ele está, como se estivesse descalço e, apesar de olhar para a frente, esse pedaço de terra já infértil prende-me o pé, ingénuo como sou, teimo em imaginar flores nesses solos, ou nas areias imagino pequenas praias, que não deveriam sequer existir na cabeça, quanto mais senti-las ligado ao chão, à terra, ao que está atrás. Se novas coisas, bonitas e felizes, nascem porque é que o árido toca a pele e desvia o sangue que devia correr pelo nascimento de coisas novas. Nem preto, nem branco. O cinzento já lá vai. Tudo tem cores vivas, para a frente e para trás.
Se no chão que já não emprenha se imaginam flores, olhando para a Primavera em frente a sede de algo desfoca-me a vista, que é de longe, porque o pé preso nas silvas não me deixa correr até lá.
Sussurrar ao fundo não se ouve.
Gritar para trás é alto demais. Ensurdece. Ensurdeceu.

Já não acho que andar para a frente me divida em dois. Eu parto-me em dois por não conseguir andar para a frente.

Pintas o retrato.
Fazes a cama.
Agora deitas-te ? Não, tens um pé preso

Pula !
Não, tenho um pé preso.

Fica.
Alguém há-de se lembrar que estás assim.
E ou chama por ti, ou ficas por aí.

1/2=?

Tenho a impressão que andar para a frente me divide sempre em dois. Toda a gente anda com um pé atrás e outro à frente, mas devíamos andar aos pulinhos de pés juntos, pelo menos eu, para não ficar sempre com um pé lá atrás, a recordar-me. E o pé faz parte de mim não é ? E eu acabo por sentir a terra onde ele está, como se estivesse descalço e, apesar de olhar para a frente, esse pedaço de terra já infértil prende-me o pé, ingénuo como sou, teimo em imaginar flores nesses solos, ou nas areias imagino pequenas praias, que não deveriam sequer existir na cabeça, quanto mais senti-las ligado ao chão, à terra, ao que está atrás. Se novas coisas, bonitas e felizes, nascem porque é que o árido toca a pele e desvia o sangue que devia correr pelo nascimento de coisas novas. Nem preto, nem branco. O cinzento já lá vai. Tudo tem cores vivas, para a frente e para trás.
Se no chão que já não emprenha se imaginam flores, olhando para a Primavera em frente a sede de algo desfoca-me a vista, que é de longe, porque o pé preso nas silvas não me deixa correr até lá.
Sussurrar ao fundo não se ouve.
Gritar para trás é alto demais. Ensurdece. Ensurdeceu.

Já não acho que andar para a frente me divida em dois. Eu parto-me em dois por não conseguir andar para a frente.

Pintas o retrato.
Fazes a cama.
Agora deitas-te ? Não, tens um pé preso.
Não, tenho um pé preso.
Pula !

Fica.
Alguém há-de se lembrar que estás assim
E ou chamam por ti, ou ficas aí.

sábado, junho 18, 2011

#3


Não precisas de sentir que estás a desperdiçar algo se alguém já o desperdiçou por ti.

terça-feira, junho 14, 2011

#2


Vi-te hoje outra vez. Olá, não tenho saudades tuas mas não há como evitar encontrar-te no meio do preto de vez em quando.
Já nos encontrámos mais vezes, é verdade, mas os nossos olhos atraem-se como eu e tu, eu e mal, mal e tu, nós e mal e mal e mal.
Já nos encontrámos mais vezes, é verdade, mas no entanto só nos encontramos nos entretantos e eclodimos errantes, distantes, perturbardos e nada disfarçados. Já te conheço.
Conheço-te cada vez melhor, mesmo que já tenhamos sido mais próximos.
É fodido, eu sei... grão a grão, ja sabes.

Olha, mas hoje tens alguém ao lado, quem é ?
Hey! Quem é ? Pára de olhar para o outro lado, esperas alguém?
Sim ? Porquê ? Então e quem está...?
Hey ! Pára de olhar para onde não está ninguém !

sexta-feira, junho 10, 2011

Thanks JV

Começou por ser um Bom Inverno, daqueles que despertam todas as sensações: chorar de tristeza ou chorar devido à beleza. A voz esganiçada traz o cheiro das montanhas e imagino-me numa cabana. Juro que quase ouço a água e correr e quase que a sinto fresca na minha cara, purificante, fresca, fresca. E o vento, dançando com folhas de velhas árvores que nunca vi, traz-me saudades que nunca senti, de coisas que nunca cheirei. Nunca me tocaram, mas sinto a sua falta e sei que preciso delas: de ser limpo pela água e embalado pelo vento. Só encontrei este sítio em sonhos, mas quero encontrá-lo na minha pele. Esse Bom Inverno que me vai fazer esquecer tudo, excepto quem me limpa e quem me embala.

quarta-feira, maio 25, 2011

#1

O que é que te despertou ? Mais, o que é que isso interessa ? É a primeira vez que não desistes à primeira, e nem que seja por isso, não questiones.
É quem tu és, mas o que é que te interessa perguntar ? Interessa-te saber que é e não porque se tornou assim, mas mais uma vez, é quem tu és. Serás uma pergunta?
Seguramente, simplesmente porque não és a resposta. A solução está fora de ti, agora sabes isso, portanto, não desistas à primeira, porque por mais que questiones,
as respostas estão a mão de semear: os passáros e os carros, o Dó e o Ré, elas porque dão beleza ao mundo e eles porque dão sentido à tua vida. Tudo, mas tudo, tudo, tudo,
é a resposta. Não a vês ? É simples, não questiones, olha uma segunda vez.
Custou e a merda do caminho parecia super comprido, pareceu sempre tão escuro, com buracos fatais depois de cada curva. O caminho é exactamente igual, acredita! Tu é
que escolheste vê-lo de outra forma. Tão subito que foi e tão bem que te soube. Sim, porque agora a vida sabe-te bem. Mas o que é que te despertou ? E o que é que isso
interessa ? Não sabemos, ou secalhar até sabemos, mas não queremos saber, porque não queremos pensar nisso. O que interessam os meios se o resultado te faz sorrir como
talvez nunca sorriste ? Bolas, lá tas tu a questionar, só te falta questionares-te a ti próprio para saberes porque questionas tanto e mesmo que o faças, já sabemos a quem
não é a solução: Tu! E isso é bom, porque já percebeste que não és mais que um armário, mas um com vida, que pode escolher o que quer guardar. E agora guarda coisas boas.
E agora ? Tanto tempo perdido, tantas voltas, tantas lágrimas sem sentido, valeu a pena ? Provavelmente dir-me-ás que sim, que agora te sentes calmo, à espera que te preencham,
mesmo quando precisas de estar sozinho, porque nunca estás sozinho e isso é uma arte.
Portanto, desculpa ter-te enganado e ter-te dito para não questionares nada. Questiona. Vai força questiona, pergunta tudo, tenta saber o máximo que conseguires, procura
tudo o que te apetecer procurar, mas, e há sempre um mas, nunca te perguntes porque procuras, vais acabar por cair à primeira. E ninguém quer isso, nem eu nem tu.

Então e agora, falando mais a sério, diz-me lá... És feliz ?
Talvez ? Já não é mau. Estás melhor do que antes ? Boa ! Sentes-te bem ? Fixe !
Secalhar estás mesmo feliz e acredita que fico feliz por ti.
Vai-te embora então, não procures aqui mais nada, agora tudo o resto é que há de te preocurar a ti.
Sorri.
Vê.
Sente.
Olha para frente.
Vá, sorridente.
Não seja teimoso.
Ja percebeste o gosto das coisas.
Não desaprendas.
Não desatines.
Ouve, só.
E pensa.
Ouviste ?

Agora vai à tua vida.

terça-feira, abril 12, 2011

Assustaste-me!
Criaste um monstro em nós havendo só eu e tu.
Ainda estou assustado.
Mesmo que a vida cheire melhor agora, um monstro é sempre um monstro
e medos serão sempre medos, mesmo que não escondas segredos.
Basta-me enrolar o teu cabelo nos meus dedos,
para saber tudo é certo,
para saber que o que está perto,
cansa a vista como um deserto.
Areia para os olhos eu sei,
mas o teu cheiro passeia aqui,
de mão dada com a falta de ti,
um odor que me abraça,
enquanto o tempo passa.
Existem monstros bonitos afinal.
E não és tu o monstro bonito,
Sou eu, porque teimas em não me ver feio
Somos nós, porque não temos receio.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Que atire a primeira pedra

Pões sempre um não em tudo
Salivas para dentro constróis o teu escudo
Tu e o teu não...
De mão dada um com o outro
Só olham o espelho morto
Com 7 pedras na mão plantados
Estão sedentos, endiabrados,
Desejosos de disparar aos telhados
e levar com o vidro em cima.

Já rasgados e desmembrados
Cospem sangue para todo o lado
Limpam os olhos ao vidro caído
Consomem-se num amor antigo

Vejo de relançe que não fazes sentido
Tu e o teu não vivo
Alimentaste-o
Deste lhe vida
E a tua alma está perdida

Já não vais a nenhum lado
O desespero não é passado
Está presente na tua mente
Vais morrer! é(s)-te indiferente