Se não estiveres sozinho com os outros, estás fodido. Se
estiveres só sozinho, ou só com os outros, mais fodido estás. Acredita. Isto
não é preto nem branco, e se te tentarem impingir que a relação entre duas,
três, ou cinquenta pessoas, funciona só
no preto e no branco, estão-te a enrolar numa bela tanga. Nada, mas nada, funciona a preto e branco,
nada é um ou dois, tudo ou nada, este ou aquele. E agora que leste este
parágrafo pensas: “Ya, este otário tem razão, o mundo é realmente muito
cinzento”. Não, responderei eu, continuas
totalmente errado. As cores, os pretos, os vermelhos, os brancos, os azuis, são
só características inócuas das coisas, um monocromático de propósito só para
não ser tudo monocromático de raciocínio mas com várias cores para os olhos. As
cores da vida, do amor, das relações, não têm nada a ver com isso. De tintas estamos
todos fartos.
Acontece que na realidade o coração também não gosta sempre igual, mesmo que
goste muito, mesmo que lute com o topo do teu corpo pelo controlo dos teus
nervos, dos teus ossos, do suor frio daquela paixão arrebatadora ou da colega
de escola que te dá tesão. A cabeça não manda sempre o mesmo, nada obedece
sempre igual. E o teu espírito meu amigo, o teu espírito não existe, pelo
simples facto de existir, e ser a coisa mais corruptível do universo, por mais
que o negues. O teu espírito, a tua alma, a tua consciência, o teu grilo, se
por acaso fores feito de madeira, é a coisa mais maledicente da tua vida, aquilo
com que menos podes contar, o que vai atraiçoar todas as ligações físicas que
fazem o sangue correr-te nas veias e manter-te vivo, e ao teu espírito, sem vos
tocar.
As relações não são cinzentas, o amor
não é insolúvel, o sémen não é incolor.
As relações são da cor do sexo, mesmo que nunca saiba a sua cor.
O sexo é da tua cor. Da vossa cor.
Tudo o que em ti não é físico é a tua cor. A tua cor não tem cor. A tua cor que
não tem cor é a cor de tudo o que tens, tudo o que sentes, dás, e recebes. Não
é branco, não é preto, não és dali, não és daqui, hoje podes ser da cor do
perfume deste, ou igualzinho a tinta dos beijos da outra.
Cinco anos, cinco dias, cinco meses, cinco segundos, cinco minutos. A cor das coisas é da cor da ampulheta. Não és
dele, nem dela, és da cor deles enquanto fores dessa cor: que não é preta, nem
branca, nem vermelha, nem amarela, nem…