quarta-feira, novembro 28, 2012

Nervos Pleonásticos


Nervos
criação
redundante
pleonasmo
fumo
sémen
falta de controlo
soro
tu és
acalmante quando estás
mas agora és só uma criação
redundante
de nervos.

Inutilidade Bruta


Olho-me em vão sentado do sofá onde estaria se não me estivesse a ver
tento perceber como seria não sentir
não me enxaguar de miséria interior
da falta de reacção líquida

Ver tudo como tudo ou nada e não sentir como nada
atribuindo a uma qualquer falta de esperança a causa de tudo o que é

Inutilidade bruta em mental
borboletas transformadas em ulceras que se reproduzem a cada poça de sangue
poça de água
poça de nada
desvio da estrada
onde vinha a mente e não os sapatos
pois não tenho pernas para mexer sonhos quando acordo.

O peso
a erecção fácil e a explosão
destruição do carácter infímo da minha pessoa quando atiro os pés ao chão para nada
espírito que não é são
nem estável nem que o fosse
carrossel acima carrossel abaixo

Garganta estômago
estômago garganta

Vertigem


Vertigem
tremeliques da mão que fuma
por ti
por não chegar a tremer por ti
com o total conhecimento – meu e teu
de que sabemos os dois.

A que sabemos os dois?
paladares distintos
presas que embatem como bestas a marcar território

Não é cair
nem o medo de
ms sim a vontade de te atirares do alto
mesmo que te apanhe és a noite
como é que se agarra algo tão enorme?

cá de cima os trombones tocam mais alto
o fumo do cigarro entra nos olhos e só vês meio mundo
meio tu meio eu

o que aconteceu
na vertigem esfumaçada?

terça-feira, novembro 27, 2012

Aberto

Abrir em palavras pode ser tenso
propenso a forçar - as letras
começar pode ser só começar
querer libertar
para os outros para ti para mim
estás agora aberto
para o bem e para o mal
para cuspir em ti todo o tédio
infernal
que é a parafernália barafustada
do que existe - onde se inclui o que eu acho
que exista
onde fui e onde infelizmente não estive
um atirador furtivo
com corpo de pavão
e disparos às linhas do ar
dos comboios
das mulheres
deste caderno

Saudações
estás (estamos)
aberto (s)

sexta-feira, novembro 23, 2012

Castigo


Em cimento paradoxalmente bucólico,
pula de pés atados.
Sob a sombra de folhas a desverdear,
é castigado.
Na mistura do que se tornou tudo,
nas filas de espera do resto do mundo,
no bombardeio longínquo de fome e de vida,
é punido.
Não culpa o mundo,
não se sente melhor por haver pior,
não se sente pior por haver pior.
Entretanto já explodiram a fome a e a vida.
Está o sol e o cimento quente e os pés atados.
Castigo.
Tem sede.
Reconhece que além de suor e lágrimas deixa também vida a cada pulo.
E a estrada tão comprida com sol quente
mudará para um céu belo de morte,
estrelado,
Mas que não lhe matará a fome nem desatará os pés.

Os dias vão passando,
perde lágrimas, suor e vida.
Só ganha fome,
que o espírito já não engana com as estrelas à noite.

Já sente a morte nos tornozelos.

Mas porque raio não usa ele as mãos para libertar os pés?

Tabaco Para (os) Dois


Lar­­ga–lhe o fogo.
Imola-te na tua impotência.
Imagina-as sem roupa,
imagina-os despidos.
O que é uma noite de nunca esquecer e sempre sentir,
comparado com meses de amarras mal atadas.
Mordaças atiradas ao longe.
Tens boa pontaria.
Pousa o tabaco que isso mata,
mata o tempo de estarmos antes de podermos fumar.
É preferível sermos os dois fumo.
Estraguemos pulmões então,
suspira comigo para fumarmos depois.

quinta-feira, novembro 22, 2012

Não Me Sinto À Vontade Contigo


Não me sinto à vontade,
não me sinto à vontade contigo,
irritas-me.
Sem qualquer propósito ou pressuposto,
sem limitações de pensamentos e alucinações sem sentido.
De que te vale que os cavalos tenham guelras ?
Que os homens tenham gavetas, o que tens ?
Tiram as meias dos pés sujos para o chão,
sempre para o chão.
Cheios de merda, e eles feitos de merda e um par de tecido multiplicado por merda.
Irrito-te porque sou uma merda, ou achas que tenho peúgos brancos ?
Pano branco é martírio e morte certa,
basta pisares a rua e pisas sangue.
Asseguro-te que com sanguessugas gigantes a treparem-te pelas pernas
não consegues beber a tua cerveja nem fumar o teu cigarro.
Enrola um charro.
Aparece, desaparece, aparece, desaparece.
Afinal era real ?
Estranhamente não é diferente?
Intoxicação para nada.
Eu explico:
O gargalo da lixívia a boca e ela queima-te logo a língua para começar.
Não podes falar.
Desce e queima-te o resto,
não respiras, não arfas, não ladras.
NÃO FAZES NADA.
Alteração sensorial completamente fodida e despropositada,
mas mesmo assim não uses meias brancas,
as sanguessugas fodem-te todo.
E na rua toda a gente te vai olhar de lado e soltar os cães,
que acredita que,
bem, mas bem len-ta-men-te…
ferrarão os seus tira carne na tua garganta bem devagar,
para rasgar devagar,
como as pontes que fizemos na terra e na água,
ou só na terra,
ou só na água,
escolhe,
eu cozinho.
Sai-me da frente, irritas-me.
Baixa à cabeça, são só estilhaços,
tens que te baixar deles.
Eu baixo-me dos meus e dos teus e tu dos teus e dos meus,
combinado ?
Mas não uses tecido branco, peço-te mais uma vez.
E baixa-te, já te avisei.
Agora somos dois, ou mais não sei quantos.
Porra, não me irrites, baixa-te,
são só estilhaços,
como vão ser as pontes que fizemos.
Não me sinto à vontade,
trazes-me um copo de água?
Mas desta vez sem bichos mortos e olhos de pessoas baços.
Perdoa-me ser mesquinho,
mas não gosto de olhos já baços,
é mais giro arrancá-los e come-los ainda frescos,
na transição entre pré-morte e morte.
Irritas-me.
Vais sair assim de meias brancas?
As sanguessugas vão te arrancar os olhos antes de mim,
mas eu vou encontrá-los para os morder.
Acredita.

Cidades Ardem


Carros que passam e ninguém os conduz.
Ninguém está lá dentro e ninguém existe.
O sol mal se levantou e já entristece com a falta de vida e o pavimento fechado em copas.
Nada mostra os dentes,
não há vida nas rodas, nas pessoas,
no amor do amor.
Elefantes gigantes tombam e voam sobre ninguém,
por cima de carros vazios.
Bestas gigantes e fulgorosas apanham o não olhar de quem vê o que quer,
e não o que queria mesmo, mesmo, mesmo, mesmo, mesmo...ver.
As cidades estão já a arder,
o tijolo dos prédios cai e confunde-se com os cadáveres,
nada existe, ninguém vê, ninguém sabe.
Quem estará aí? Quem existe?
(Além de deus, claro, que não existe)
Oh, eu. Onde morri.
Talvez onde todos também desapareceram,
no lugar em que os elefantes só pisavam.
Passa por mim alguém com um braço.
Não existe (nem o braço, nem a pessoa).
Passam a correr, apanham o fogo na roupa e correm até morrer.
De cansaço.
Pelo fogo mas com falta dele.

Rodas


Roda, muda, gira.
Sai um dia e  entra outro,
entre outros sou um aborto.
Um puro descarrilamento de vida logo à partida,
de vísceral punho desenfreado sempre a bater a mesma estrada,
a comer o mesmo pó.
Rodas e rodas no mesmo sítio,
com um tornado de pó a coçar a retina,
com a vassoura sozinha,
um pontapé ao escuro no que não muda.

A deliberação é confusa e autónoma,
como os esguichos através da pele,
de vida.
E os ossos quebrados e rasgados por paus e tornados de pó,
quando só há… só.

quarta-feira, novembro 21, 2012

Sangue


É só mais um dia,
são só coisas.
Algo que se manifesta por não acordares,
suma violação da cuidada e delicada virgindade do teu nó.
Se não desatas a relação não resulta.
Não, não, nada amoroso.
Vicissitudes do amor próprio imaginado em outrém,
do ódio (real) por ti mesmo a esfaquear-te a toda a hora.
Ai! Sangue.
Significa que estás vivo?
Ou que estás a morrer?

A Cor das Coisas


Se não estiveres sozinho com os outros, estás fodido. Se estiveres só sozinho, ou só com os outros, mais fodido estás. Acredita. Isto não é preto nem branco, e se te tentarem impingir que a relação entre duas, três, ou cinquenta pessoas,  funciona só no preto e no branco, estão-te a enrolar numa bela tanga.  Nada, mas nada, funciona a preto e branco, nada é um ou dois, tudo ou nada, este ou aquele. E agora que leste este parágrafo pensas: “Ya, este otário tem razão, o mundo é realmente muito cinzento”.  Não, responderei eu, continuas totalmente errado. As cores, os pretos, os vermelhos, os brancos, os azuis, são só características inócuas das coisas, um monocromático de propósito só para não ser tudo monocromático de raciocínio mas com várias cores para os olhos. As cores da vida, do amor, das relações, não têm nada a ver com isso. De tintas estamos todos fartos.
Acontece que na realidade o coração também não gosta sempre igual, mesmo que goste muito, mesmo que lute com o topo do teu corpo pelo controlo dos teus nervos, dos teus ossos, do suor frio daquela paixão arrebatadora ou da colega de escola que te dá tesão. A cabeça não manda sempre o mesmo, nada obedece sempre igual. E o teu espírito  meu amigo, o teu espírito não existe, pelo simples facto de existir, e ser a coisa mais corruptível do universo, por mais que o negues. O teu espírito, a tua alma, a tua consciência, o teu grilo, se por acaso fores feito de madeira, é a coisa mais maledicente da tua vida, aquilo com que menos podes contar, o que vai atraiçoar todas as ligações físicas que fazem o sangue correr-te nas veias e manter-te vivo, e ao teu espírito, sem vos tocar.
As  relações não são cinzentas, o amor não é insolúvel, o sémen não é incolor.
As relações são da cor do sexo, mesmo que nunca saiba a sua cor.
O sexo é da tua cor. Da vossa cor.
Tudo o que em ti não é físico é a tua cor. A tua cor não tem cor. A tua cor que não tem cor é a cor de tudo o que tens, tudo o que sentes, dás, e recebes. Não é branco, não é preto, não és dali, não és daqui, hoje podes ser da cor do perfume deste, ou igualzinho a tinta dos beijos da outra.
Cinco anos, cinco dias, cinco meses, cinco segundos, cinco minutos.  A cor das coisas é da cor da ampulheta. Não és dele, nem dela, és da cor deles enquanto fores dessa cor: que não é preta, nem branca, nem vermelha, nem amarela, nem…

terça-feira, novembro 20, 2012

Aos Outros


Mesmo que abortes qualquer momento,
mesmo que sem intento,
até mesmo em tormento,
celebra-te até amanhã.

O depois de hoje devorará o hoje e será hoje.
Hoje viverás sempre no hoje.
Hoje és tu,
Hoje.
Amanhã serás tu,
e quando essa pedra te bater na cabeça pensarás:
bateu-me na cabeça, hoje.

Hoje és livre e amanha também.
Hoje está e amanhã hoje será.

A mim nada devo que a ti não tenhas,
que a ti não tenha,
que de mim não venha.
Só assim entenderás porque não podes entender o céu.
Oh! O céu e as estrelas e tudo o que pensas ser natural de mais para isto.
Celebra-te no pequeno,
festeja-te sem ressentimento,
aumenta o processo.

Perde balanço.
Os ouvidos descaem.
O prato desvia.
A balança cai.
Hoje, Hoje, Hoje, sempre hoje.

Dirás: Sim, tens razão!
Gritarás a todas as casas,
a todos os muros,
a todas as pessoas prometerás.

Promessas, promessas, promessas,
atas-te  e a ti jurarás.

E amanhã será hoje,
porque sempre é hoje e o presente sempre está.
Mas triste não vais estar.
Porque tens o céu, as estrelas e tudo o que pensas ser natural de mais para isto.

sábado, novembro 17, 2012

Fugiu para a Austrália

Epah escreve coisas mais giras

Tudo bem, a sentença “os opostos atraem-se” é uma da qual não gosto, mas se há tão tenebroso, também 
deve dar para um subterfúgio de meio riso. Aí vai…
Era uma vez um texugo, mas que também era pinguim  fruto de uma noite sexual surreal entre os dois animais já chamados à história. À partida a génese genética era propícia a uma dose de elevada anormalidade, o que veio a suceder quando o texugo/pinguim e uma guerrilheira se apaixonaram. Depois de enfrentarem um exército de monstros, numa disputa que envolvia também o reino das girafas, ela desapareceu e fugiu para a Austrália, bem devagarinho, sem ele reparar em cada passo que ela dava.
Está contada uma história gira. 

Toma. Não tens de quê.

sexta-feira, novembro 16, 2012

Foste


Sem apelo nem agrado,
ou reforço do emaranhado,
ensanguentado e vislumbrado,
estupefacto e estupidificado sentimento,

foste.

Nada há que surpreenda do que não chocar,
O estar a espera destrói os tímpanos de qualquer um,
Mas o que é melhor,
podes-me dizer ?
Esquecer o passado ou saber o futuro ?
Nenhum, quando o presente é fosco.
Morreram as esperas,
os tais antes e ansiosos até's,

foste,
nunca mais vou ver as tuas unhas cravadas em flanela.

Quarto


O quarto está branco e baço.
Desculpem, o quarto é mesmo branco
 e baços estão os meus olhos acordados agora.
Cheira mal e os cantos são enfermos,
ressequidos de velhice,
 merda,
 musgo
e algo da cor da ferrugem e do mel. 
O odor a fel enche toda a divisão,
 sinto-o cá dentro, não preciso de o cheirar,
não preciso que ele exista.

Se eu enfiar o braço pela garganta e tentar,
com as unhas,
 raspar os cantos do quarto,
eles continuarão sujos.
 Sangrarei.
Será uma carnificina auto infligida.
Sem rodeios, sem pensamentos.

Fecharam-me aqui.
 Tenho fome e preciso de tinta.
 Estou sinceramente farto de esperar
 e seria demasiado óbvio e preferível pintar as paredes de novo.
 Ao fim ao cabo quem pinta as tuas paredes?
 as minhas paredes ?
 Cada um deixa acumular o que quer,
cada qual vive se puder.

#1


A quem deixarás o testemunho ?
Sim! A quem guardarás esse trágico destino,
essa lembrança fogosa de te substituir?
Talvez fosse melhor redigir um testamento, dirão.
Mas as melhores heranças não são dadas,
nem são heranças,
são pré estabelecimentos de ordem e de caos.
E tu, a quem os deixarás?

O deslumbramento voraz das palavras,
tão embelecidas pelo acrescentar consoante,
é vogal no que toca a direcção do que queres deixar para trás.

As melhores heranças não são heranças
e dizer melhor já é explodir com o suposto.

E andar em frente.

E o facto de estares exactamente no mesmo sítio.