sexta-feira, novembro 16, 2012

Quarto


O quarto está branco e baço.
Desculpem, o quarto é mesmo branco
 e baços estão os meus olhos acordados agora.
Cheira mal e os cantos são enfermos,
ressequidos de velhice,
 merda,
 musgo
e algo da cor da ferrugem e do mel. 
O odor a fel enche toda a divisão,
 sinto-o cá dentro, não preciso de o cheirar,
não preciso que ele exista.

Se eu enfiar o braço pela garganta e tentar,
com as unhas,
 raspar os cantos do quarto,
eles continuarão sujos.
 Sangrarei.
Será uma carnificina auto infligida.
Sem rodeios, sem pensamentos.

Fecharam-me aqui.
 Tenho fome e preciso de tinta.
 Estou sinceramente farto de esperar
 e seria demasiado óbvio e preferível pintar as paredes de novo.
 Ao fim ao cabo quem pinta as tuas paredes?
 as minhas paredes ?
 Cada um deixa acumular o que quer,
cada qual vive se puder.

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