Foi quando se viu encurralado pela última vez. Não que tivesse sido
a vez final, apenas mais uma, a última
até então. Esperava ele que fosse assim, pelo menos, se saísse dali, com mais
ou menos graciosidade, a plumagem de vitória pareceria apenas uma árvore quase
desfolhada. Antes poucas folhas que
nenhuma, afinal de contas o Outono é o equivalente aos dias de escolha que
temos durante a vida. Atrevo-me a concluir então que o Outono é mesmo
semelhante à vida, neste caso ainda mais acinzentado, a chamar chuva, a pedir
chuva.
O Sol é quase blasfemo para quem odeia a vida, tal como a época em que ele aparece, é um encanto tão naturalmente forçado que é maçador. Tudo perde o mistério, as ruas parecem todas amarelas e laranjas, os homens mostram as barrigas, as mulheres bonitas perdem o mistério e tornam-se apenas objetos intocáveis, séries de curvas dérmicas de presumível prazer e perdição, mas sem qualquer mistério. Sem nuvens, sem Outono. O Verão não tem Outono e é por isso que é uma merda.
O Sol é quase blasfemo para quem odeia a vida, tal como a época em que ele aparece, é um encanto tão naturalmente forçado que é maçador. Tudo perde o mistério, as ruas parecem todas amarelas e laranjas, os homens mostram as barrigas, as mulheres bonitas perdem o mistério e tornam-se apenas objetos intocáveis, séries de curvas dérmicas de presumível prazer e perdição, mas sem qualquer mistério. Sem nuvens, sem Outono. O Verão não tem Outono e é por isso que é uma merda.
O
barulho dentro do autocarro era infernal, mas a orquestra amotinada na sua
cabeça era mais audível que qualquer desgraça, não seja ela uma desgraça
também. Alheado dos encontrões e da aceleração citadina, voltou com o rabo à
cadeira por dois dedos de tempo. “Quem é esta gente? Para onde vão? Qual é a
sua história? Que cara de mim observam elas?”. Cara. Era um conceito
interessante para ele, olhava-se ao espelho e questionava-se se as outras
pessoas viam a mesma cara. Interessava-lhe estabelecer uma dinâmica ou um
postulado, cientificamente comprovado, sobre a matéria. «A cara que vemos é a
cara que os outros vêm?». Não era pretensioso, nem metafísico, nem filosófico,
era tão simples quanto a frase que define a ideia. Tal como tentar perceber o
Big Bang, e aquele pequeno pormenor que sempre o incomodou, de que para não
haver nada tinha que haver algo, existia este problemas das caras. Não sabia se
a sua cara era a que era vista pelos restantes, o que eles achavam dela. Porque
seria um ser tão repugnante para o sexo oposto sem qualquer escolha, dado que o
fora é aleatório. Esperava, durante essa viagem de autocarro até à entrevista,
poder observar a cidade, como gostava. Pensou até em sair paragens antes para
ir a pé, algo que lhe enchia os pulmões do ar dos outros. Mas, para variar,
absorveu-se em ideias próprias e salteadas de acontecimentos: reais e
imaginários, possíveis e impossíveis.