terça-feira, outubro 05, 2010

(A) Corda

A corda na garganta
Entala-te a esperança
Atiça em ti a matança

Tudo foge da lembrança

Foges de te lembrar
Nunca te esqueces de esquecer
Foges de te lembrar
Sentes a pouca esperança a morrer

Lambes a vida sem paladar
A boca fica seca
Vais estudar como fugir do ar
Aprender a escapar de amar

Com a corda na garganta
Nada te levanta

Escada Para o Céu

Sai do chão
Cuidado com a imitação
Levanta-te
Espanta-te
Surpreende-te
Liberta-te
Prende-te aos demais , mas guarda tudo no bolso do pijama
Sorri , sê lilás
Aceita as coisas como (não) são
Não andes para trás
Tira os olhos do chão

Em baixo nao há nada
Descobre-te
Sobe a escada
Revolta-te
Por tudo ou por ...
Não há mais certezas
A exactidão esgueira-se em todas as cores
Tudo é como é , mas é incerto
Tudo está tao perto
Tudo a céu aberto

segunda-feira, agosto 16, 2010

Dentro

O calor chateia-me. Mesmo estando lá fora. Mas vistas bem as coisas tudo o que está lá fora pula a cerca para me aborrecer. Tédio. O tédio é rotineiro .
O tédio aumenta por cada insónia agitada. O tédio é meu . E eu faço do meu tédio o que eu quiser. O que ele quiser . Pensativo ( e entedidado ) ,
percebo que me estou a perder. Deixar migalhas no chao nao resolve, sou feito delas, e por isso mesmo desfaço-me constantemente. Perco-me em
ideias completamente vazias, um gasto inutil de energia e de emoção. Nem compreendo o que estou a pensar, porque me incomoda, ou o porquê do tédio afastar o sono.
Admito porém que é bom . Faz-me sentir estranhamente vivo , espreitando tudo sem saber o que procuro , respirando essa vontade de descobrir.
Perco-me na descoberta , mesmo procurando tao perto . E é assustador ser tão perto , e é ainda mais horrivel eu achar que o que está perto é tao assustador.
Sou eu tão assustador que nao me consigo encontrar ? Ou simplesmente ignoro-me ? Ignorando-me por nao querer acabar com esta sensação de busca, de surpresa ao virar da esquina,
deixando migalhas para eu próprio as conquistar... talvez !
A verdade é que o calor chateia mesmo, que tudo lá fora pula a cerca e vem a correr brincar na minha cabeça. Enche-a . Transborda-a.
Pacifico ? Não .
Agradavel ? Nao sei.
Eu ? totalmente.

segunda-feira, junho 28, 2010

Fantasma

És um fantasma, tira as luvas e brinca com o fogo.
A vida pasma
O Chão deserda-te
Mostra as mãos
O medo aperta ?

Jasmim

Nao te ouço
Nao te perçebo
Dou
Não Recebo
Regozijo-me da imagem que tens de mim
da merda fazes ouro , jasmim


Páras antes
Olho , e não somos dois
Não dou
recebo depois
rachas-me a cabeça
pára de ser um relógio de cuco
se eu nao fosse demente
dava em maluco

sexta-feira, abril 09, 2010

Confortavelmente Adormecido ?


Vou Dormir .
Mas agora de Olhos fechados.

Vou Adormecer.
Não como adormeço mal a luz raia,
Vou adormecer a serio ! sim !
Vou adormecer ... hoje... Sim !
Vou limpar a máquina, hoje,
Sim!
Vou Dormir, Dormir mesmo !
Sem grilos falantes, hoje ! sim !
Hoje , de olhos fechados...
Hoje ,
Fechados!!!
Fechados...
Fechados ?
Fechados afinal não estão.
Abertos sim ! Hoje e sempre , abertos .
Abertos estão e estavam,
Mas limpos, sem fôlego.
Abertos sim ! mas fora deste mundo;
A sonhar !
A sonhar com um sonho deles ; e meu ...
Que era adormecerem. Adormecermos.
Mas Não ! Hoje, será mais do mesmo !
Por favor... Imploro :
NAO METAM MAIS CARVÃO NA MÁQUINA ! NÃOOO !!!!
SIM !! MATEM TODOS OS GRILOS QUE ME BERRAM SEM CONTROLO !!
SIM !! MATEM OS GRILOS TODOS !!! TODOS...
por favor...
sim !(?)
Ou...
Ou matem me ! Sim ! MATEM-ME !
Matem me , porque os berros não me despertam.
Por favor !
Matem-nos ! A mim . e aos grilos.
Sim ! Sim... Amanhã será mais do mesmo.
Mas por agora, bem...

Vou continuar a dormir,
mas de olhos fechados

segunda-feira, abril 05, 2010

Morrer, já ?

O facto de alguém morrer no fim , não significa a priori que a historia seja má , triste , mal acabada, ou um drama supérfluo de fazer qualquer dona de casa
soltar a sensibilidade pela cara abaixo. Não de todo ! , além de ser um pedaço de tédio redundante morrer na ultima pagina antes da contracapa, antes das 3 letras, é uma bênção para aqueles cuja história foi agradável, como personagem secundária, mantida na simplicidade ou na mesquinhez, sem capacidade ou sem vontade de se fazer ver, ou como o herói que supera tudo, qual Ulisses regressado a casa, seres com almas verdes e esvoaçantes...amarelas!! , Fénix renascida apesar de todo o obstáculo.
Pois bem , se morrer no fim , para alguns é bom , devo desde já desmentir me a mim próprio, e dizer que para alguns, ter que andar tantas página, é mau, é triste , é mal ( e tardiamente) acabado, é um drama supérfluo. E aqui , devo novamente dividir as personagens , os que teimam na cobardia de desaparecer a meio, e os que esbarram no medo de o fazer.
Não aguentam, não conseguem , tem problemas, etc. tudo questões de assobiar para o lado para o John doe que passeia de carro ao nosso lado, justificações que parecem
tão simplórias, que parecem não justificar partidas precoces, porém, tais cobardes são desdenhados, invejados, por outras pessoas, homens, simples, aparentemente honestos, futilmente inteligentes, ineficientemente capazes de fazer coisa alguma, pessoas que têm mas não dão, não porque não querem, mas porque não podem, porque não conseguem, querem , mas não dá, a alma quer o corpo não deixa, o corpo salta a alma não gravita, tentam de tudo, em vão, rafeiros não tem pedigree, e não têm culpa, nasceram assim, morrerão assim.
Simplório outra vez ? talvez ! mas os muros que me rodeiam ( e que com cobardia hão de chegar ao fim do conto, qualquer que ele seja ), além de já gastos, vistos,
desmoronados, sujos. São feios, semelhantes a algo pintado por matisse mas esfregado e desgastado durante eternidades. (in)felizmente, a esguelha de olhares que por ele
passam é efémera, míope, fútil ! A esses olhares, o muro parece vivo como antes, parece uma criança, um adulto, uma estrela , um sol , uma flor, um carro, parece algo...
Que não existe.
Retidos nesses portões cada vez mais abertos, as bestas e os demónios fuçam para os partir completamente, chegará o dia em que triunfarão, trespassarão o portão, derrubarão
os muros, e ao contrario destes, vaidosas as bestas e imparáveis os demónios, irão vangloriar-se , verdadeiros, e belos , belos como só na verdade poderiam ser. Mostrar-se-ão,
os olhares de esguelha ,não tarda será notada a falta daqueles muros gastos e esbatidos tão fáceis de ver a olhos fúteis e habituados, desprovidos de alma e pensamento,
Quando as trevas começarem a queimar, o voyeurismo muda de passeio, e o zoo de bestas feias , mas belas por serem verdade, irá rodear-se de pecados, irá viver em luxúria,
tentará dominar a luz.
E aí então, após a jornada , resta-me escolher , entre a cobardia de partir já, ou a cobardia de ficar até logo.