segunda-feira, abril 05, 2010

Morrer, já ?

O facto de alguém morrer no fim , não significa a priori que a historia seja má , triste , mal acabada, ou um drama supérfluo de fazer qualquer dona de casa
soltar a sensibilidade pela cara abaixo. Não de todo ! , além de ser um pedaço de tédio redundante morrer na ultima pagina antes da contracapa, antes das 3 letras, é uma bênção para aqueles cuja história foi agradável, como personagem secundária, mantida na simplicidade ou na mesquinhez, sem capacidade ou sem vontade de se fazer ver, ou como o herói que supera tudo, qual Ulisses regressado a casa, seres com almas verdes e esvoaçantes...amarelas!! , Fénix renascida apesar de todo o obstáculo.
Pois bem , se morrer no fim , para alguns é bom , devo desde já desmentir me a mim próprio, e dizer que para alguns, ter que andar tantas página, é mau, é triste , é mal ( e tardiamente) acabado, é um drama supérfluo. E aqui , devo novamente dividir as personagens , os que teimam na cobardia de desaparecer a meio, e os que esbarram no medo de o fazer.
Não aguentam, não conseguem , tem problemas, etc. tudo questões de assobiar para o lado para o John doe que passeia de carro ao nosso lado, justificações que parecem
tão simplórias, que parecem não justificar partidas precoces, porém, tais cobardes são desdenhados, invejados, por outras pessoas, homens, simples, aparentemente honestos, futilmente inteligentes, ineficientemente capazes de fazer coisa alguma, pessoas que têm mas não dão, não porque não querem, mas porque não podem, porque não conseguem, querem , mas não dá, a alma quer o corpo não deixa, o corpo salta a alma não gravita, tentam de tudo, em vão, rafeiros não tem pedigree, e não têm culpa, nasceram assim, morrerão assim.
Simplório outra vez ? talvez ! mas os muros que me rodeiam ( e que com cobardia hão de chegar ao fim do conto, qualquer que ele seja ), além de já gastos, vistos,
desmoronados, sujos. São feios, semelhantes a algo pintado por matisse mas esfregado e desgastado durante eternidades. (in)felizmente, a esguelha de olhares que por ele
passam é efémera, míope, fútil ! A esses olhares, o muro parece vivo como antes, parece uma criança, um adulto, uma estrela , um sol , uma flor, um carro, parece algo...
Que não existe.
Retidos nesses portões cada vez mais abertos, as bestas e os demónios fuçam para os partir completamente, chegará o dia em que triunfarão, trespassarão o portão, derrubarão
os muros, e ao contrario destes, vaidosas as bestas e imparáveis os demónios, irão vangloriar-se , verdadeiros, e belos , belos como só na verdade poderiam ser. Mostrar-se-ão,
os olhares de esguelha ,não tarda será notada a falta daqueles muros gastos e esbatidos tão fáceis de ver a olhos fúteis e habituados, desprovidos de alma e pensamento,
Quando as trevas começarem a queimar, o voyeurismo muda de passeio, e o zoo de bestas feias , mas belas por serem verdade, irá rodear-se de pecados, irá viver em luxúria,
tentará dominar a luz.
E aí então, após a jornada , resta-me escolher , entre a cobardia de partir já, ou a cobardia de ficar até logo.

2 comentários:

  1. Estaria a mentir se não dissesse que está simplesmente fantástico. Não consigo não dizer nada. "Palavra puxa palavra" neste caso, o teu escrito puxou a minha e aqui fica o registo:

    Não vás já... bebe mais um copo...

    um abraço


    Pedro Querido


    Pedro Querido

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  2. Os parágrafos finais estão qualquer coisa espectacular. Curti imenso.

    Abraço.

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