sexta-feira, maio 31, 2013

Valsa Menor Sem Amigos

E hoje não sei onde vou dançar
felizmente
queria era tocar
sacar dos dedos uma semi valsa em menor
meter-me a mexer por dentro
completamente chupado de todas as notas
seguindo regras desreguladas de notas
lápis e borrachas que passaram e ficaram
como o som
porque afinal é isso
e era isso que gostava de saber fazer
acima de tudo

Mover-me sozinho
bailando os dedos em teclas e trastes
e pa ra ra
e tu ru ru
e agora mais rápido
crescendo staccatto
como calhar

uma valsa noturna em que os meus três passos são dois
eu e um qualquer espremedor de pele
causador de calos
arrepiador de som

ai quem eu gostava de ser e não posso
um expressador de notas sem valor de troca
apenas espiritual
sozinho
não será essa a maior troca ?
o maior sentimento ?
o que diria eu a mim próprio se um dia me conseguisse exprimir sem lábios ?
nada
morreria no próprio êxtase dos barulhos
das cordas
na ejaculação de mim mesmo até aos ouvidos

ai quem eu gostava de ser e não posso
ser que impressionasse a ele mesmo pela pauta

quinta-feira, maio 30, 2013

aos meus amigos

sozinho
sem discurso
rasgo memórias
bruto que nem um urso
frágil que nem uma pétala
que nas minhas pequenas orelhas me canta a enganar
sem gritos me aflito
e aflijo em boca de alma
do mais sincero do que poderia dizer

além é o que há mais
e aquém ficarei sempre em demasia
e não podia
nunca foi
fui aquele que não fazia
serei aquele que se perderia
perderá ainda mais

a vida foge e as calças são curtas
para as arrepanhar a meia canela
e correr atrás da primeira
alagadas de suor
alagadas de joelhos
alagadas de escarlate flamejante
o que as minhas mãos foram arranjar ?

sozinho a correr
vós todos tão falsos como eu
que me mostro de quando em vez
odiando-me sem porquês
sem condescendente amizade como a vossa

e sozinho ficarei
paciência pouca
mente rouca
corda de estendal de merdas que fui fazendo
e entendo que me odeiem
não que me mintam

aos meus amigos
que não o são
não consigo
fiquem
e adeus

sexta-feira, maio 24, 2013

levar-te a passear

um dia tenho que te levar a passear
e a mim também
que nunca vou
não me levo a lado nenhum
não saio de mim
mas não interessa
quero levar-te a passear
fazes-me falta
e o meu puzzle até é pequeno
mas és uma peça tão grande
um dia levo-te a passear
voltamos a gostar um do outro
porque precisamos um do outro
a gostar como quem ama
como quem precisa
com paixão amiga
vou levar-te a passear
porque precisas de mim e tens a boca calada

quinta-feira, maio 23, 2013

Perto Animal

a única coisa que violo é o teu sossego
mas tu complicas-me a líbido
e sim
podias ficar com a minha complicação
com o meu ódio
com tudo o que pudesse ver do animalesco e grotesco que todos temos
sim cheira a sexo
sim estas palavras são semi roubadas
mas ficam aqui bem

ficarias com o meu isolamento durante uns minutos
com o meu corpo
com o meu tudo

e eu só quero tudo o que trazes
do início dos tornozelos aos recantos do pescoço
animais
mas hey a existência tudo permite
assim como eu sentir-me assim

ausência de promessas
apenas tensão e tesão de alma
"hoje está calor"

que as tuas unhas compridas me arranhassem
ajuda-me
ajuda-me
ajuda-me
como um animal

O Chinaski tinha Mulheres

é isso
o cabrão do velho ao menos tinha mulheres
droga
álcool
e ainda o presente é absorvido pela sua genialidade
mas não quero falar do Chinaski
ele é demasiado para eu o ousar ter na boca
ou nos dedos e nas palavras neste caso

cerveja é bom
vinho faz-me leve
as mortalhas enrolam-se a mesma velocidade que me enganam o sofrimento
às vezes até me fazem rir
queimadas do caralho

trabalhos de merda irão levar-me ?
não
isso são só cartas atrasadas para os predestinados
dinheiro ? para o lixo
qualificações mentais? nulas
a desaparecer a cada passo
terapias não são tentativas

e páginas
almejarei um dia ser conhecido pelas minhas?
não
tenho demasiado amor às palavras para as tentar guardar entre capas
um velho novo versus um novo velho
eu
moi
I

mulheres?
gostaria de poder falar sobre isso
perguntem ao carteiro
que se foda
há-de saber mais que eu
raio de parada de carros alegóricos
numa terra de um cego só
eu
parem de olhar para mim
parem de não olhar para mim

mulheres?
como as cartas
acabadas ou por começar
nunca por escrever

quarta-feira, maio 22, 2013

Maravilha, o caminho.


Gosto particularmente da palavra estanque. Não por saber defini-la de trás para a frente, nem isso me interessa, pois só me interessa a forma como eu acho que as palavras devem significar. Se mando nalguma coisa que seja, no que escrevo ainda é uma delas. E estanque quer dizer exactamente o que me dá a entender, talvez seja do ritmo da palavra, das consoantes. O ritmo, esse, não existe, é uma palavra que automaticamente me faz sentir que algo está parado, empenado, mas que não é uma linha num caderno, mas sim um caderno fechado cheio de coisas escritas. São coisas diferentes. Mas é igual. Estanque. Parado.
Posto isto, clarifico que me parece qualquer tentativa de alcance a algo que chamamos maravilhoso, é tudo menos estanque. A glorificação da nossa maravilha, do atear que ainda não pegou, é real. E dói. E tem muitas cores. Quem sente, diverge, contradiz-se, arrepende-se, tudo na tentativa paradoxal de chegar à comunhão com algo, com alguém. A conta certa é algo com alguém. A minha é, desligando do facto da inexistência de parcelas. O que é verdade pode mudar sem deixar de o ser, e a mentira que o substitui pode ser apenas outra verdade mais pequena, o que faz de tudo verdade e tudo mentira. Nada parado, nada estanque. O amor, o toque, o desespero e o ódio. Quatro interruptores de vivência seja ela onde for, até achar o meu castelo, por mais ínfima que seja a vontade do motivo de sofrer, e cada um tem as suas farpas. Daí que que as coisas mais interessantes floresçam das cicatrizes, das tatuagens,  mais interiores que exteriores. Do sangue escorre e corre tudo, inclusive histórias. E as histórias não são estanques, apenas são o mais emotivo e cativante que numa alma pode existir. A mim a dor ninguém me tira, mas essa é a minha história, como escrever, mal ou bem, ninguém se importa, é uma ferida que escorre. Um caminho para cada, eu espero ter um castelo enublado no fim do meu, mandar-me lá de cima, voltar a subir, voltar a atirar-me. Se não vais, não voltas, se não fazes caminhos, não fazes feridas e nada mexe.
Contra mim falo, não efectuo salto algum.

terça-feira, maio 21, 2013

por fora


exclusivamente as relações pessoais foram presas
o agrilhoamento não permite qualquer tipo de fuga
tipicamente datado e rotulado
ser que gostava de é apenas um limite
um pretensiosismo dos tempos em que já não podemos

aclarando a garganta não existirão denúncias
provocações
eliminações de barreiras
levantadas à volta das oportunidades

a sensação de sensualidade não se mede pela tensão
objectiva objecção de qualquer movimento fora dos carris
comida de recluso no que podias ter
e que não chegas a provar

segunda-feira, maio 20, 2013

Estômago/Panico/Alma

pânico sobe sobre o estômago da alma
arrotas a só
cheiras a um qualquer elemento corporal que não tem propósito
o estômago da alma
lá passa-se fome
cordas
letras
e forjas saídas que não serão viáveis
porque só as imaginas
se tudo o que inventasses fosse verdade
já tinhas um compêndio de felicidade
ao invés de um dicionário de frustração
por dentro não respiras
arfas que nem um cão
cortado ao meio
no meio da estrada
meio morto meio torto
sangue espalhado
pêlo
pelo
asfalto
um assalto com miolos nas paredes de toda a gente
menos as tuas que só te fazem morrer todos os dias

Armazém Esgotado Por Demolir


O stock encontra-se esgotado
a publicidade não sai cara
é o crer em criar que não nasceu
ajudar a estabelecer-me nunca foi um objectivo
não vou aparecer no topo da cabeça das pessoas
nem na minha
se era esse o primeiro passo
os registos mostram que as coisas acabaram
e que as que ficaram perderam a validade
o meu armazém não faz sentido aqui e vou arruiná-lo
sim
ok
já está arruinado
mas fisicamente não
vamos lançar-lhe andorinhas com bombas
sacrificar várias belas para me destruir o espólio
e uma luz que nunca se vai apagar vai surgir
já que com tudo a funcionar as coisas são escuras.

domingo, maio 19, 2013

solidão em prosa pequena

a solidão não se baseia numa princípio estanque de não estarmos na companhia de alguém, fisicamente e em proximidade conversacional. acrescento também um calor, mera chama amorosa ou de paixão, que nada são parecidas com romantismo, dado que este não existe e nem descrente se pode chamar. nem vale a pena abordar a questão sexual, que todos já foderam sozinhos pelo menos uma vez. 
simplesmente nunca existiu essa noção de romantismo.
amanhece e provavelmente sinto-me só. mas não por estar sozinho, ainda agora olhei o rio e o céu a apanhar cor e sorri. nesse pequeno movimento terrestre não estive sozinho, apenas depois de baixar os olhos.
o maior problema acaba por residir na indefinição que tenho de qualquer conceito. nem a dor que sou eu consigo explicar como sendo uma coisa de entender. não sei o que ando a fazer. a solidão não se pode alicerçar num princípio estanque. eu nunca paro em correr nos nervos e transmissão ao topo. 

terça-feira, maio 14, 2013

Frio e Sol


calor esfria-se com o cessar da luz
é bom
escuridão sempre foi mais propícia a falsidades
ao calor faz sol
e pelo meio de tanta coisa
tantas florestas tantas ervas tantas alterações
o que volta à noite é sempre escuridão
dor
não ter
não ser
uma aberração inegável do que deveria ser alguém
o sol que odeio é o mesmo que me esconde afinal

segunda-feira, maio 06, 2013

Sala de estar em forma de coração


disse que nunca mais iria ver as tuas unhas cravadas em flanela
não vou
mas hey
espera !
tenho uma reclamação
nunca mais saí da tua caixa em forma de coração
imaginária claro
porque é da minha que nada sai
a canoa imaginária que espero com água pelo pescoço
com peixes em gangrena a boiarem a volta
podia comê-los por ti sabias ?

uma vez tive um amigo
que roubava palavras aqui e ali para tas dar a ti
que quis mais do que podia dar

ele contou-me em segredo que nunca te vai dizer o que tu queres ouvir
porque ainda gosta
e não quer escudos para se proteger
mas ao menos fez-te crescer pintar e montar o teu lugar
agora estás bem na tua sala de estar
por ti

365 dias (ou quase)


está a rondar o aniversário de uma brincadeira de crianças
há coisa de um ano via-te atravessar a estrada
lembro-me de pensar como não eras só bonita
mas simplesmente uma das coisas mais atraentes que já tinha visto
a forma como andavas limitou-se a confirmar esse facto
a roupa que trazias apenas o fez brilhar

vinhas ao sol
depois ficou vento e meio escuro mas eu não vi
sempre foste só sol

mesmo a páginas tantas
a cultura que nos abraçou não me cegou
apenas tu
quando era impossível não fechar os olhos
tão perto estavam as nossas caras
e o resto

olhando para trás lembro putos a correr
gelados granizados livros e círculos russos
estômago revirado eu em espera
em pânico a medir cada palavra
e as 300 mil formas de as conjugar

de agradar


365 dias ou quase
já passaram
não me passou 

sábado, maio 04, 2013

Caçador parte 2: Medo e espaços e pessoas


Acagaço-me todo com gente
espaços e multidões
existem demasiadas oportunidades de tudo
provavelmente e certamente de felicidade
porra
do resto tudo também
não?
acho que sim
é demasiado para mim
tanto hormonas como lições

vens para mim
vens por mim
vens para aqui
e ficarei cego
e será que cego terei sonhos?

questiono-me se neles existirão memórias destes medos
se existirão fodas em segredo
ou alguma coisa que me puxe de volta do lado de lá
do pano
da falta de
do excesso com

Caçador parte 1: Veados

quando for grande quero continuar a caçar coisas belas
paridas pela natureza
que corram ao desdém pelas penumbras
e pelos pântanos
com merda pelas canelas
até
com cinco dedos bem separados
me atirarem um adeus
fugindo com hastes gloriosas
fugindo de capturas manhosas
à procura de nenúfares onde não cabem cascos
mas se seguram no líquido
são melhores que a penumbra
empiricamente falando

Não vou descobrir nada
mas a espingarda está sempre pronta
felizmente que as coisas se tornaram difíceis de abater

até a lama me chegar aos cotovelos
até a lamúria de floresta escura
que já me encravou a culatra

quarta-feira, maio 01, 2013

morrer afogado


Isto já não chega
nem as modernices nem a criancice
ou as falcatruas que vou diminuindo
já não tenho vergonha ou pejo
a facção de “um bocadinho menos derrotista”
caiu ao virar da praia
ao lado
nas rochas bicudas em tempo de papa terra
água por todo o lado
sempre tive medo de morrer afogado
principalmente sem ser em água
mas nota-se que apenas arfo em vez de falar
regurgito e não opino
não vejo quem está à minha frente
sôfrego se escreve e se anda e se respira
mas o pânico também já chega
e as modernices e esta merda toda

nem os amigos nem a noite


a mocidade fugiu-me
escorreu pelo umbigo
não parou
não havia nada em que tocar
onde devia haver peles
suores mútuos

esta barulho aqui
estamos com os copos
não estou aqui
e se amizade
fiel casamenteira de sorrisos
não me alegra
nada o fará

faço fumo sozinho
sou o único aqui não aqui
não nada
nada além da minha própria inexistência
no conceito de feliz
do qual não tenho dicionário

nem os amigos nem a noite
durante apenas estas letras
no caminho apenas sal molhado a tentar explodir
 ninguém se vai vir
e um vã desistência volta porque nunca caiu em sono