sexta-feira, novembro 23, 2012

Castigo


Em cimento paradoxalmente bucólico,
pula de pés atados.
Sob a sombra de folhas a desverdear,
é castigado.
Na mistura do que se tornou tudo,
nas filas de espera do resto do mundo,
no bombardeio longínquo de fome e de vida,
é punido.
Não culpa o mundo,
não se sente melhor por haver pior,
não se sente pior por haver pior.
Entretanto já explodiram a fome a e a vida.
Está o sol e o cimento quente e os pés atados.
Castigo.
Tem sede.
Reconhece que além de suor e lágrimas deixa também vida a cada pulo.
E a estrada tão comprida com sol quente
mudará para um céu belo de morte,
estrelado,
Mas que não lhe matará a fome nem desatará os pés.

Os dias vão passando,
perde lágrimas, suor e vida.
Só ganha fome,
que o espírito já não engana com as estrelas à noite.

Já sente a morte nos tornozelos.

Mas porque raio não usa ele as mãos para libertar os pés?

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