quarta-feira, novembro 21, 2012

A Cor das Coisas


Se não estiveres sozinho com os outros, estás fodido. Se estiveres só sozinho, ou só com os outros, mais fodido estás. Acredita. Isto não é preto nem branco, e se te tentarem impingir que a relação entre duas, três, ou cinquenta pessoas,  funciona só no preto e no branco, estão-te a enrolar numa bela tanga.  Nada, mas nada, funciona a preto e branco, nada é um ou dois, tudo ou nada, este ou aquele. E agora que leste este parágrafo pensas: “Ya, este otário tem razão, o mundo é realmente muito cinzento”.  Não, responderei eu, continuas totalmente errado. As cores, os pretos, os vermelhos, os brancos, os azuis, são só características inócuas das coisas, um monocromático de propósito só para não ser tudo monocromático de raciocínio mas com várias cores para os olhos. As cores da vida, do amor, das relações, não têm nada a ver com isso. De tintas estamos todos fartos.
Acontece que na realidade o coração também não gosta sempre igual, mesmo que goste muito, mesmo que lute com o topo do teu corpo pelo controlo dos teus nervos, dos teus ossos, do suor frio daquela paixão arrebatadora ou da colega de escola que te dá tesão. A cabeça não manda sempre o mesmo, nada obedece sempre igual. E o teu espírito  meu amigo, o teu espírito não existe, pelo simples facto de existir, e ser a coisa mais corruptível do universo, por mais que o negues. O teu espírito, a tua alma, a tua consciência, o teu grilo, se por acaso fores feito de madeira, é a coisa mais maledicente da tua vida, aquilo com que menos podes contar, o que vai atraiçoar todas as ligações físicas que fazem o sangue correr-te nas veias e manter-te vivo, e ao teu espírito, sem vos tocar.
As  relações não são cinzentas, o amor não é insolúvel, o sémen não é incolor.
As relações são da cor do sexo, mesmo que nunca saiba a sua cor.
O sexo é da tua cor. Da vossa cor.
Tudo o que em ti não é físico é a tua cor. A tua cor não tem cor. A tua cor que não tem cor é a cor de tudo o que tens, tudo o que sentes, dás, e recebes. Não é branco, não é preto, não és dali, não és daqui, hoje podes ser da cor do perfume deste, ou igualzinho a tinta dos beijos da outra.
Cinco anos, cinco dias, cinco meses, cinco segundos, cinco minutos.  A cor das coisas é da cor da ampulheta. Não és dele, nem dela, és da cor deles enquanto fores dessa cor: que não é preta, nem branca, nem vermelha, nem amarela, nem…

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