A impermeabilidade do pelo, alavancado na capacidade de
encaixe da caixa d’alma, define bem as diferenças. Foi assim que aprendi o que
era escovar por dentro, como estou a aprender a fugir e estar onde saltei. Como
ela me ensinou. Nos gestos mais simples em que desenterrei as minhas pás como
placebo do enterro vivo. A terra que percorria a boca, enchia a boca, bloqueava
a garganta e não deixa respirar. Ela disse-me como era bravo sonhar das pontas
dos pés dos bicos da terra, em contacto.
De que servirão pás no sótão, soterrado em
terra húmida, da sua graça, sem passar o ar? Em todo o lado existem ruas sem
saída. É mentira. Barram numa parede mas se entrou tem de sair. Como o ar,
sempre o ar. Para provar que as entradas têm saídas, mesmo que atrapalhadas.
Assim encontrei mais tarde o que ela me queria dizer, depois de a encontrar.
Não deixo de querer não
esquecer como ela é. Mas posso-me dar ao luxo de o tentar fazer. Não descola.
Ela disse-me que existiam estrelas no céu, às quais eu só tinha dado o meu
reparo desleixado. Tanta coisa e tão poucos olhos, passados e passaram por ela.
Só do lado de cá da estrada,
e apenas espreitando bem entre o a infernal relação do belo, do feio e da vida
na forma de seres que habitam carros e andam em casas, é que conseguimos ver os
amarelos e os rosas do vento. É aqui que paro, porque é nessa brisa que ela
passou, deixando-me como testamento a mão cheia de espelhos, a clara água do
que se perdeu.
Ela pensou que não viria, e
eu apanhei-a a não dizer isso e ouvi. Agora o passado. Amanhã amarelos e rosas
de memória e de alívio de dose errada, mentira consentida, remédio curandeiro
de um pedaço do corpo, enfermo para o que sobra sem luz.
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