terça-feira, abril 16, 2013

Feira do Livro-me de ti


Enquanto as palavras forem o meu único refúgio
as pessoas cada vez mais alérgicas ao meu enfermo
e a minha falsa simpatia seja um granizado
adocicado que se derrete nele próprio
num estalar de dedos
enquanto assim for
continuarei a passear entre as bancas
entre as páginas
os vendedores de almas
do meu espírito
as guardadoras do que já foi o meu prazer
anestesiadas pelo fim da ilusão
passei e ignoram-me
sussurram-me
“livrei-me de ti”
gritas-me
“livro-me de ti aqui e agora”
e merecida é a forma
se no prato oposto vier a (minha) falta de conteúdo
ando e ando pela feira
bancas, páginas, pessoas
todos cravam os olhos na minha roupa e sinto-a a queimar
e com ela os pelos um a um
a seguir virá a derme
continuará a feira física que de alma estou despojado
“livro-me de ti”
arrancas-me de ti manejando-me como mais um item
sem sabor especial
sem feliz final
apenas a corte que te deliciou
e os cortes que te abriram as retinas
pelo que o único pedaço de espírito
são enfim
as reminiscências ao segundo do meu existir não se livrar de ti

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