quinta-feira, junho 27, 2013

relações necessárias / foice

Vou enclausurar nas relações necessárias
o senhor da fruta
a senhora da loja
a senhor professora e o senhor doutor
o senhor pai e a senhora mãe

as demais não são mais do que planícies de sentimentos
vastos e vastos campos sem nada
de inimizade em inimizade
menos falso a cada falsidade
mais verdadeiro a cada verdade
e o plausível de tudo ser dor

para pânico chegou eu
para morte chegamos nós
eu e tu
dona da foice
que já me auscultaste e levaste por dentro
deixando a carcaça para os outros verem

os mortais dão-se pelo espírito
ligam-se pela alma imortal
receptáculos vazios como eu só fazem eco
não dão sopros a ninguém
não beijam o ser de quem se poderia transmitir

por isso gosto de agora ser invisível
aprendi a amar o não acima de tudo
mesmo que odeie  a dor e o sofrimento
mas do que seria sair à rua
se não saísse nunca
porque a foice levou-me tudo o que poderia interpretar

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