quinta-feira, julho 04, 2013

doer em tudo

o tempo não traz nada aqui
isto não é sobre o tempo
nem sobre ver se algo muda
são letras que tenho
mas são palavras do não tenho
esbanjo tempo
gasto palavras
letras erodam
elas que se gastem
como água aos molhos
ideias batem-me na cabeça
tenho falésias nos ossos
caio nelas
sem tempo
infinitamente

quero fugir de dentro
dormir sem roldanas

sento-me lá fora
olho o céu
à partida não vejo nada
é isso que quero
pretendo estar aqui o mínimo
lá fora não há nada
só fumo e água
as coisas nem são o que são quando é assim tão noite
podia ser afoito
podia
podia ter sido tantas coisas
bom
afável
normal
a moenga do crânio
do estômago
o estilhaço de todo o meu corpo contra o aço das não ideias
conjurados e reflectidos nas conclusões banais
devaneios estruturais
rochas em charcos
eu no mundo
eu em mim
doer em tudo

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